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Crônica de uma cidade: "Viver é ter muitas saudades" - Dimas Junior

Publicado em:
5 de novembro de 2019 19:29:29
Atualizado em:
30 de novembro de 2022 17:56:37
Crônica de uma cidade: "Viver é ter muitas saudades" - Dimas Junior
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Uma vez ouviu dizer que a saudade mata! perguntei bastante incrédulo. Mas a morte empregada aqui é o extremo. Causado por diversos momentos de angústia, dor, alegrias, tristezas, risos, choro, palpitações, aceleração, paixão. Todos estes sintomas são o que a saudade causa.Saudade,concluo que a saudade é um conjunto de derivados que tornam o ser humano mais humano, pois quando ele sente saudade é que em algum momento as lacunas de sua vida foram preenchidas por alguém que com certeza o completou e mostrou que a saudade muitas vezes pode ser um bom sentimento, não um conjunto vazio que é o mesmo que estar em um estado vegetativo inerente e sem vida. A pessoa sem vida esta morta, mesmo às vezes estando viva. Então diria que a saudade revive, porque nos faz lembrar quem somos, como começamos nosso processo de humanização, e quem nos ajudou a enxergar este mundo encantado. A saudade faz lembrar que amamos e que lutamos, e que fizemos a vida valer a pena. Até conseguirmos! Na realidade a causa da saudade é o verdadeiro trunfo nisso tudo. Este alguém que faz com que tenhamos um turbilhão de sentimentos compulsórios, transitórios, como veículos num cruzamento sem sinalização completamente loucos, mas comum ao destino traçado. Este alguém que te faz pensar, calcular, planejar, transformar, e tudo mais que for possível ou não para conseguir estar junto desta pessoa. Este alguém me fez sentir saudade. Que bom!! Pois agora estou pronto para o impossível e se o impossível for inalcançável, aguardo pelo próximo momento de saudade, porque aí estarei pronto para o inalcançável. A Saudade não é como a fome, pois a fome se mata com o alimento, ou como o frio que se aquece com um agasalho. O que mais queria na vida, é que nela houvesse replay e pause. Isso é algo impossível e que foge das leis de Deus. Já passei por dias hilários e gostaria muito de revivê-los , quando eu penso nesses vários momentos importantes da vida, crio em minha cabeça um livro que estou lendo e quando estou com muita saudade de tudo volto às paginas da minha memória e revejo tudo outra vez. Me dá um aperto no coração imaginar outra vez, mas não poder estar mais lá. Tantas coisas que poderia ter dito, tantos carinhos que poderia ter feito, mais não foi assim. Hoje já não sou mais o mesmo, muita coisa mudou. Mas o que prevalece é o meu sonhador coração, ele pulsa a cada instante e diz que a vida é intensa e cheia de emoções. Só me restam agradecer por tudo e relembrar meus dias, pois por mais que seja triste não poder reviver novamente sou feliz pelas lembranças. De volta à minha cidade peço ao motorista para ir mais devagar, quero matar a saudade de cada rua, cada ponte, tento abraçar tudo com os olhos, quero absorver, observar. Não tenho mais certeza quanto ao endereço, ainda bem que achei ao acaso escrito num pedaço borrado de papel, dentro de uma edição velha do meu livro favorito. Agora não olho mais pra rua, tento disfarçar o nervosismo, tento acreditar na mentira de que o tempo não passou, que tudo ainda está no mesmo lugar. O carro para, deixo de lado meus pensamentos mais íntimos, dou uma nota e digo que não preciso de troco, saio com as malas, o táxi parte e eu fico, parado. O mundo girou e eu nem percebi, procuro as chaves no bolso, deixo as malas na porta e entro. Não sei se é a saudade ou se é de verdade, mas sinto aquele cheiro de café forte sendo coado, saio abrindo portas e janelas deixando a luz entrar, vou até a cozinha com a esperança de que ela esteja lá, não há ninguém, o cheiro de café era fruto da saudade da minha tia Alzira, ela foi embora, e levou consigo a velha TV. Sento no balcão, ainda posso ouvir seus passos, continuo andando pela casa lembrando cenas antigas de um passado qualquer, vou ao quintal, o jardim continua florido e bem cuidado, corro para o portão sorrindo, tenho certeza que ela vai voltar.
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