Política civilizada - Tatiana Munhoz
Publicado em:
21 de junho de 2020 às 19:00:07
Atualizado em:
24 de março de 2025 às 19:05:42
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Às vezes, me pergunto se os cidadãos estão cientes de suas responsabilidades civis ou mais engajados em oba obas partidários e ideológicos, porque política, de uns tempos para cá, apresenta-se como um assunto almejado.
Embora outros adjetivos possam ser associados ao assunto como: cinismo e controverso, a população, de certa forma, vive um ano eleitoral com um requinte inesperado: o Coronavírus e suas implicações em todos os âmbitos.
Para não ser muito pessimista, devemos acreditar, sim, que ainda existam pessoas interessadas em ingressar nesse mundo com o intuito de transformar, de alguma forma, a sociedade em que vivem. Para isso, é necessário que haja um entendimento sensato das causas e efeitos que as interações humanas exigem e não, meramente, vivenciar a política por puro entretenimento pessoal, em alusão à ideia de poder.
O discutível desse período é que da mesma maneira que a nossa sociedade é estruturada por pessoas que cooperam e se solidarizam em momentos cruciais, estas mesmas podem rapidamente insultar e atacar outras pessoas por argumentos que não compartilham. A política metamorfoseia-se em uma grande arena pública de problemas e argumentos pessoais, apartando-se do primordial: do plano de gestão para o futuro.
Civilidade é a habilidade de discordar do outro, não desmerecendo sua sinceridade e respeitabilidade. Talvez, um dos problemas atuais encontra-se no conflito geracional. Cada geração potencializa uma identidade politizada apoiada em suas experiências e perspectivas referentes à sua época. O fato é que, de tempos em tempos, essas separações ocasionam divisão e inquietude na sociedade, devido à diversificação dos parâmetros de fatos e moralidade.
Como o assunto do momento é governança, é importante destacar que a obrigação civil, nesta hora, é atentar para as vozes que ecoam de dentro de nós. Nós atuamos na política. Não somos obrigados a ser imparciais ou a esconder nossos sentimentos e percepções. Mais do que tudo, por amor de nós mesmos, necessitamos, urgentemente, estabelecer elos de compaixão para com as sugestões alheias, mesmo que diferentes das nossas.
O Brasil ainda é um país democrático. Estimando ou não os governos que nos representam, elegido pela maioria dos votos, nossa devoção precisa ser redirecionada ao que é a verdadeira política. Afinal, ela controla nossas vidas diariamente, direta e indiretamente. Seja na quantidade de impostos que pagamos, inclusive, embutidos no preço do pingado e pão na chapa, que milhares de brasileiros comem todas as manhãs, nas padarias afora, como na qualidade dos serviços e infraestruturas públicas a que somos submetidos.
Em geral, todos nós somos políticos em certo grau, independentemente se ocupamos um cargo público ou privado. Até entre familiares e amigos há politicagem. O ser humano tem essa necessidade de ser aceito, carece que suas ambições e inseguranças sejam sanadas.
Não existe problema em sermos diferentes. O transtorno aponta quando as dissemelhanças tornam-se implacáveis e irreconciliáveis.