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O faz-de-conta e as tragédias! - por Edison Pires

Publicado em:
24 de fevereiro de 2023 15:00:00
Atualizado em:
24 de fevereiro de 2023 21:24:25
O faz-de-conta e as tragédias! - por Edison Pires
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A tragédia que se abateu sobre o litoral paulista, principalmente a região Norte nos arredores de São Sebastião, durante o final de semana de Carnaval, mais uma vez deixou em evidência que a implacável força da natureza somada à ação predatória e devastadora do homem, invariavelmente, produz efeitos terríveis de muita dor, perdas irreparáveis e prejuízos materiais.
Dados da Defesa Civil do Estado mostram que num único dia, choveu 683mm naquelas localidades (Bertioga, Maresias, Barra do Sahy, entre outras), superando em mais do que o triplo a média mensal de fevereiro, que era de 203mm. Foi um verdadeiro dilúvio, que que colaborou em muito com os trágicos acontecimentos.


Mas, em minha humilde e revoltada opinião, os problemas gerados pelo homem são os principais causadores dessas catástrofes. As várias reportagens mostraram que em encostas não habitadas houveram grandes deslizamentos de terra, mas nenhuma vítima. Já nas áreas com moradias, a realidade foi outra.

E é aí, exatamente nesse ponto, que entra minha indignação: em 99% dos casos – isso é uma opinião, não um fato comprovado – a culpa é dos órgãos fiscalizadores que fecham os olhos para muita coisa por vários motivos.

Se houvesse realmente uma fiscalização adequada que impedisse a invasão de encostas, muitas tragédias poderiam ser evitadas. Alguém lembra do que ocorreu em Petrópolis, no Rio de Janeiro? Ou em Paraty?

A faixa de terra no litoral é estreita, todo mundo sabe. De um lado o oceano, do outro, as serras e, depois, lá em cima, o planalto. Além disso, ainda tem os rios e mangues. Sobra pouca área de superfície de chão firme para abrigar cidades e um sistema viário capaz de atender a demanda populacional.

Para piorar a situação, o mercado imobiliário procura o “filé” para a construção de mansões e condomínios, além de construir a estrutura necessária para satisfazer o público de veraneio. Só que para manter funcionando toda essa “vida maravilhosa com vista para o mar”, é necessária a presença de trabalhadores e prestadores de serviços que, predominantemente, são compostas por pessoas das classes C, D, e E. E claro, elas não encontram espaço para construir suas casas entre as mansões ou dentro de condomínios. O que sobra, então, para elas? A resposta é simples: as áreas de encostas!

Bom, é aí que me revolto contra os órgãos fiscalizadores. Todo mundo também sabe o perigo que é retirar vegetação de morro e deixar a terra exposta. Se os órgãos fiscalizadores agissem com o devido rigor – como que para alguém que corta uma árvore em sua chácara -, essa invasão não iria acontecer. Porém, aonde essas famílias iriam se acomodar? E os veranistas, aonde iriam encontrar mão-de-obra para atendê-los?

As respostas para essas perguntas, pelo que se vê, pode estar na “flexibilização” ou na total inobservância do que é permitido e proibido perante a lei. Inclusive a Ambiental. Afinal, centenas de casas não brotam nas encostas da noite para o dia. Há conivência aí? Se fossem retiradas logo no início, não surgiriam as várias vilas em locais de risco de morte para essas famílias. Asfalto, luz, coleta de lixo, transporte, escola, Saúde, não são disponibilizados se os órgãos públicos não cobrassem impostos dessas localidades. E, se cobram impostos, é porque reconhecem, de algum modo, a legalidade do local. Mesmo que seja ilegal!

Pelo que sinto, as autoridades se veem entre a “cruz e a espada”. E não encontram outra saída a não ser arriscar – com a vida alheia. Enquanto estiver dando certo, tudo é alegria. Em caso de tragédia, como essa, a saída é desviar a atenção das responsabilidades e apelar para a solidariedade - o que o povo brasileiro tem de sobra -, porque, procurar por culpados não convém a ninguém.

E assim, segue em frente Brasil afora o “faz-de-conta que eu fiscalizo e você faz-de-conta que me obedece”, mesmo as autoridades sabendo que a Natureza pode, novamente, mostrar sua força a qualquer momento! Pimenta nos olhos dos outros é refresco!

Edison Pires

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