O cantor sertanejo Lucas Guedes, de 32 anos, morreu na última quinta-feira (4) após sofrer dois infartos. Em uma publicação nas redes sociais, a esposa do artista, Karina Santana, explicou que ele estava sentindo dores muito fortes no peito e, após infartar pela primeira vez e ter um AVC (Acidente Vascular Cerebral) na quarta-feira, ele sofreu o segundo infarto e veio a óbito.
A morte do artista, que morava em Porto Ferreira, interior de São Paulo, deixou toda a comunidade sertaneja de luto e reacendeu um debate acerca do porquê mesmo pessoas mais jovens podem ter problemas cardiovasculares que, em algumas situações, ocasionam na morte do indivíduo.
De acordo com o Dr. Marcelo Cantarelli, cardiologista intervencionista e membro da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), os principais fatores que podem levar uma pessoa com menos de 40 anos a ter um infarto estão relacionados ao tabagismo e consumo de drogas ilícitas.
“No caso dos jovens, os fatores que estão envolvidos e podem ser um gatilho a formar um infarto são o tabagismo, o uso de drogas ilícitas, o abuso de energéticos e, no caso das mulheres, o uso de anticoncepcional associado ao tabagismo”, afirma.
O cardiologista ressalta ainda que situações frequentes de estresse também podem contribuir para um futuro quadro de infarto. Além disso, ele alerta para as causas mais comuns que levam os mais velhos a desenvolverem este problema cardiovascular, como pressão alta, diabetes, colesterol, obesidade, vida sedentária e também a herança genética.
Sintomas
Cantarelli explica que uma das maiores diferenças entre o infarto de uma pessoa jovem para o que pessoas mais velhas podem sofrer diz respeito aos sintomas. Segundo o profissional da saúde, as dores no infarto dos jovens tendem a ser mais intensas.
“No jovem a dor é mais intensa e o sintoma é o mais clássico do infarto: uma dor forte no meio do peito, sensação de queimação e aperto. Essa dor pode começar na boca do estômago, correr para a região do pescoço, da mandíbula, dos dentes, para o braço esquerdo e para as costas. É uma dor que não melhora com a mudança de posição e nem com medicamento”, destaca.
O médico aponta ainda que, em muitos casos, essa dor vem acompanhada de outros sintomas, como suor frio, enjoo, vômito, tontura, cansaço, falta de ar e até mesmo desmaio.
Prevenção
Em relação à prevenção do infarto em pessoas com menos de 40 anos, o Dr. Marcelo enfatiza que é de suma importância a realização de consultas anuais com cardiologistas para, desde cedo, fazer um acompanhamento da saúde cardiovascular.
“É muito importante controlar a pressão arterial, saber se tem diabetes ou colesterol alto, cuidar do peso, evitar a vida sedentária, praticar atividades físicas e ter uma alimentação adequada, principalmente entre aqueles que têm uma herança genética, ou seja, pais que tiveram problemas como infarto e derrame antes dos 60 anos”, enfatiza.
O especialista atenta ainda para o fato de que cada vez mais jovens estão tendo infarto no miocárdio, considerado o mais clássico pelos cardiologistas. “Se a gente voltar 50 anos atrás, o infarto só atingia os idosos acima de 60 anos. Hoje, nós vemos uma idade média entre 40 e 60 anos com incidência bastante alta de infarto.”
Cantarelli destaca que, caso um jovem já tenha infartado anteriormente, ele precisa redobrar a atenção para não ter novamente esse quadro clínico, uma vez que o risco de ter esse problema cardiovascular fica ainda maior. Uma alimentação balanceada, a prática de atividades físicas e a eliminação do tabagismo são as medidas mais importantes a serem adotadas.
“Há estudos que mostram que pacientes que já tiveram infarto possuem uma chance de 18% de infartar de novo num período de um ano. Mas isso vai depender dos cuidados com a saúde após ter esse quadro clínico. Se a pessoa não cuidar da saúde, pode voltar a infartar em um curto espaço de tempo. Se o infarto for bem tratado, com a pessoa evitando os fatores de risco que a levaram a ter este problema, diminui muito o risco de reincidência.”
Diferença entre infarto e parada cardíaca
Algumas pessoas ainda podem entender que infarto e parada cardíaca são a mesma coisa. Mas não são. O cardiologista explica que o infarto pode levar à parada cardíaca, sendo a sua principal causa.
“O infarto é o entupimento de uma artéria do coração causado por gordura e por um coágulo que fecha totalmente o fluxo de sangue para o músculo cardíaco, o miocárdio. A parada cardíaca, por sua vez, é quando o coração para de bater. Em 80% dos casos as paradas cardíacas são decorrentes do infarto do miocárdio”, afirma.
“Após a parada cardíaca é necessário fazer a reanimação cardiovascular, a massagem cardíaca para tirar o paciente desta situação clínica. O infarto do miocárdio, se você não correr ao hospital para fazer o desentupimento da artéria por cateterismo, por exemplo, ele pode evoluir e levar a uma parada cardíaca”, completa o especialista.