De quem é a culpa? - por Edison Pires
Publicado em:
9 de dezembro de 2023 12:30:00
Atualizado em:
8 de dezembro de 2023 19:44:10
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O colapso da mina da Braskem, em Maceió, pode ser mais um desastre ambiental dentre tantos outros que ocorrem no Brasil, sem que nossas autoridades e órgãos fiscalizadores atuem devidamente para evitar que tais tragédias ocorram (ocorressem) e voltem a ocorrer.
Fica difícil acreditar que órgãos ambientais e essencialmente técnicos, responsáveis pela liberação de alvarás e certidões, não fossem capazes de prever os problemas que iriam ocorrer com a exploração do sal-gema, numa das minas da Braskem.
O problema já vem ocorrendo há pelo menos três anos com maior intensidade, e o que se vê é quase nada sendo feito (de concreto) para acabar com os perigos do desabamento dos túneis e, também, para solucionar definitivamente os casos dos moradores que foram obrigados a abandonar suas casas e daqueles que ainda terão que sair.
Reportagens sobre o assunto têm ganhado cada vez mais visibilidade e destaque. E o empurra-empurra de responsabilidades sobre o ocorrido se arrasta, como já era esperado, dia após dia. Ao longo do início dos tremores são cerca de 15 mil imóveis e 60 mil pessoas atingidas diretamente pelos afundamentos, além de um hospital.
Segundo especialistas, as técnicas utilizadas para preencher e estabilizar as minas, que têm mais de 880 metros de profundidade, não são as mais eficazes. De acordo com matéria publicada pelo g1 de Alagoas, "o professor da UFAL Abel Galindo, engenheiro civil com mestrado em geotecnia pela UFPB, avalia que há uma grande probabilidade de o desabamento da mina 18 afetar também duas minas vizinhas, formando uma cratera em que caberia o estádio do Maracanã. Com o desabamento, a água da lagoa, terra e detritos seriam escoados para dentro da cratera, provocando a formação de um lago com profundidade de 8 a 10 metros. Segundo a Defesa Civil, esse fenômeno tornaria a água da lagoa salgada e toda a área de mangue na região seria impactada 'de forma bastante trágica'".
Estudos apontam que, no caso das minas de Maceió, as presenças de falhas geológicas podem ter levado ao vazamento do líquido de preenchimento e à despressurização dos poços, que começaram a ceder. Com isso, o solo perdeu estabilidade e se deu início ao processo de afundamento.
Mas será que ninguém previu isso? Será que os órgãos fiscalizadores com toda sua equipe técnica e de especialistas não conheciam as características do solo para permitir uma operação desse tipo?
Como já disse em outras ocasiões, o papel aceita tudo. Apresenta solução para todos os riscos e quase zera os problemas e suas consequências, porém, na prática, o caso muda de figura. Como já disse também, acidentes ocorrem e pessoas inocentes podem pagar caro (as vezes com a própria vida) por isso. Como também já disse outras vezes, aviões são projetados para voar, mas infelizmente alguns caem; prédios são projetados para ficar em pé, mas alguns desmoronam. Enfim, acidentes ocorrem e desprezar suas consequências, é um absurdo.
Agora, o mais importante é saber como irão ficar os moradores retirados de suas casas. Que futuro terão? Os quatro bairros atingidos, conforme mostrou reportagem, são localidades "fantasmas". Seguranças particulares, contratados pela Braskem, vigiam os mais de 15 mil imóveis, hoje totalmente abandonados. Os locais passaram a ser propriedades da empresa após paga a indenização, que ainda é contestada por parte dos moradores. Nessas ruas, casas, lojas e até prédios inteiros tiveram as portas e janelas substituídas por tijolo e cimento, criando muros que impedem a entrada de quem possa buscar algo de valor que os moradores tivessem deixado para trás. Em muitos casos, os imóveis foram cercados com placas de alumínio que cobrem as fachadas.
Será que tais indenizações foram suficientes para pagar a luta, os desafios e dificuldades enfrentadas diariamente por cada uma dessas vítimas, para realizar o sonho de ter sua casa própria? Acho que não!
Edison Pires